Na Mídia

Viva o posto brasileiro

De tão acostumados a depreciar os serviços prestados no Brasil, corremos o risco de nos iludirmos quanto a algumas atividades que dão de 10 nos equivalentes do Primeiro Mundo. Supermercados, por exemplo. Não todos, mas o nível de alguns em Porto Alegre deveria atrair lojistas da Europa e dos EUA para conhecerem o que é qualidade associada à simpatia dos funcionários.

Não há empacotadores em supermercados europeus. Você tem de dominar a arte de abrir os sacos plásticos, cobrados à parte, é claro, guardar as compras e pagar ao mesmo tempo. Em algumas lojas, já é difícil encontrar alguém de crachá – é tudo automatizado e impessoal. Onde há funcionários, espere filas, posto que, se tiver sorte, você encontrará uma ou duas caixas funcionando para cinco a 10 com luzes apagadas.

Boa parte dos hotéis e restaurantes brasileiros também já não deve nada a seus congêneres onde se fala inglês, alemão, italiano ou francês. Mas, depois de percorrer ao longo de décadas mais de 60 mil quilômetros em estradas europeias, norte-americanas e canadenses, cheguei à conclusão de que nada se compara ao posto de gasolina no Brasil.

Você pode odiar o preço dos combustíveis e achar que a culpa é do dono do posto – não é, porque a cadeia alimentar da gasolina e do diesel guarda uma intrincada cascata de impostos, ineficiências e monopólios. Você também pode deplorar o estado do banheiro de alguns postos no Brasil, e aí estaremos 100% de acordo, porque muitos ainda não acordaram para o fato do valor de um toalete bem cuidado para atrair a clientela. Mas, na média, o posto brasileiro é uma joia bem guardada.

Vejamos o caso dos frentistas. Nos EUA e na Europa, a função não existe. Você mesmo enche o tanque, nada assim tão complicado. Mas agora a onda é eliminar o posto também. Você coloca seu cartão de crédito num totem, escolhe a bomba e enche. Se der xabu, se a máquina engolir seu cartão, se a bomba não funcionar, não há a quem reclamar ou pedir ajuda. Você está órfão em um deserto onde só brotam máquinas. Quer limpar o vidro? Não tem água e nem limpador. Precisa encher o pneu? Você terá sorte de encontra um calibrador, onde precisará depositar um euro (mais de cinco pila) para fazê-lo funcionar. Encontrou um posto com loja e restaurante e quer ir ao banheiro? Passe mais 3 a 5 pila para virar a roleta, e por aí vai. Nem banheiro sujo tem mais.

Em alguns postos em Porto Alegre, te servem café e água gelada, enquanto calibram os pneus, limpam os vidros e colocam água no reservatório. Ok, custa alguns centavos a mais por litro – e o ideal seria se permitir a alternativa de o cliente escolher a máquina ou homem. Mas, por razões sociais e de conveniência, não reclamo. Ao contrário, proclamo vivas ao posto brasileiro e aos brasileiros que neles trabalham de dar inveja aos motoristas europeus.


Publicidade